Consequências
P-71 e P-72 serão vendidas como sucata
Material que deveria ter se transformado em plataformas será comercializado em leilões nesta quinta-feira e no dia 23
No auge, Polo Naval chegou a gerar 24 mil empregos diretos (Foto: Infocenter - Carlos Queiroz)
Dois leilões, agendados para esta quinta-feira (18) e terça, dia 23 deste mês, tornam-se mais um símbolo da derrocada do Polo Naval de Rio Grande. Os blocos que deveriam ter se transformado em cascos para as plataformas P-71 e P-72, agora, serão vendidos como sucata. É mais uma consequência do processo de recuperação judicial da Ecovix. No Estaleiro Rio Grande (EGR), ao invés de antigas empreitadas desde as primeiras horas da manhã, desenvolvimento e sonho, desilusão.
"Esses leilões são símbolo de derrota", enfatiza o vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Rio Grande, Sadi Machado. E eleva o tom, ao criticar a falta de articulação política e empresarial para que a estrutura local - que conta com o maior dique seco do Hemisfério Sul - volte a receber encomendas, não necessariamente da Petrobras. Recentemente, a Marinha realizou licitação para definir as empresas responsáveis pela construção de quatro corvetas do projeto Tamandaré. Um investimento de até 1,6 bilhão de dólares - equivalente a R$ 6,2 bilhões -, com prazo de entrega até 2025.
"Existe mercado e nós possuímos tecnologia, uns dos melhores estaleiros da América Latina e mão de obra qualificada", defende, ao lamentar que grande parte da demanda nacional tem sido canalizada para consórcios da China, da Noruega e de países da África. "O sentimento é de impotência. Vivemos uma guerra ideológica, com um governo federal que está preocupado com os banqueiros e os grandes empresários."
Em São José do Norte, um alento
Cerca de 450 trabalhadores devem ser contratados, em maio, para construção de um grande módulo que irá integrar plataforma FPSO - unidade flutuante de produção, armazenamento e descarga de petróleo - a ser montada na China. A expectativa é de que as oportunidades de trabalho, no Estaleiros do Brasil (EBR), durem de sete a oito meses; projeta Sadi Machado.
Relembre
Em momento de pico, o Polo Naval chegou a gerar até 24 mil empregos diretos. Rio Grande se transformou. A Zona Sul também sofreu o impacto da forte injeção econômica. A arrecadação do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) em território rio-grandino serve de termômetro: ultrapassou os R$ 43 milhões, no auge, em 2013. Em 2016, quando o cenário já era de desânimo e dúvidas, o valor despencou a R$ 4 milhões. Os reflexos do desenvolvimento podiam ser sentidos em diferentes setores, mas construção civil e comércio e serviços despontam no saldo positivo que se espalhou pela região.
A palavra de lideranças
- Prefeito de Rio Grande - Alexandre Lindenmeyer (PT) é enfático, ao destacar dois aspectos: a capacidade instalada em Rio Grande e em São José do Norte para gerar milhares de vagas e o mercado que caminha junto com a indústria naval brasileira e internacional. Afora os R$ 45 bilhões previstos em plano estratégico da Petrobras para aplicar em novos equipamentos, existe necessidade permanente de reparos e manutenção de plataformas e de recuperação de embarcações. E o dique seco é um dos diferenciais do Polo rio-grandino.
"Acreditamos em uma retomada de forma paulatina. Acreditamos que, com a soma de esforços, vamos conseguir atrair novos investimentos, novos contratos", afirma, ao defender que os resultados não dependem apenas de articulação política regional ou gaúcha. Os interesses econômicos em manter as construções no Brasil e a preservação de percentuais mínimos de conteúdo local passam, inclusive, por encaminhamentos do governo de Jair Bolsonaro (PSL) em incentivar ou não o setor.
Enquanto isso, permanecem os contatos. Há pouco mais de 15 dias, representantes do Estaleiro Atlantic, de Portugal, estiveram em Rio Grande, em prospecção de um possível arrendamento de espaço, como aposta em negócios futuros. "Ninguém está estagnado", assegura o chefe do Executivo.
- Presidente da Azonasul - Mauro Nolasco (PT), prefeito de Capão do Leão, reconhece o peso do assunto à região e garante que as lideranças irão manter a cobrança para valorização da estrutura do Polo, que repercutia positivamente sobre vários municípios da Zona Sul. "Temos que contornar esta situação. Vamos buscar a parceria do governador e da iniciativa privada para fomentar este tema, essencial ao desenvolvimento regional."
Confira informações dos leilões
- Hoje (quinta-feira), às 14h30min: P-72
Serão vendidas 26.105 toneladas de sucatas de blocos de aço carbono. Outras 18 mil toneladas de sucatas já cortadas também serão oferecidas em processo de comercialização somente on-line.
- Terça-feira, 23 de abril, às 14h30min: P-71
Serão vendidas 38 mil toneladas de sucatas de blocos de aço carbono em lotes de cinco mil toneladas. O processo também será somente on-line, através dos sites www.nortonleiloes.com.br e www.milanleiloes.com.br.
(*) Os valores do lance mínimo só podem ser divulgados no dia dos leilões e para as empresas que estiverem devidamente cadastradas a participar. O Diário Popular chegou a fazer contato com a Ecovix, em Rio Grande, mas não obteve informações sobre a expectativa de arrecadação.
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